Iluminação Zenital: fonte de luz, fonte de vida, fonte de inspiração

Iluminação Zenital: fonte de luz, de vida e de inspiração

Texto: Nathalia Novaes e Natália Morassi/ Imagens: Natalia Morassi / Foto capa: Julia Griebel

Levamos em nosso DNA a necessidade de contato com diversas fontes de luz, por isso, nossa paixão pela iluminação natural.

Diariamente ocupamos espaços construídos para desempenhar nossas atividades: morar, trabalhar, estudar. Esses espaços são desenvolvidos com a função de abrigar e proteger o ser humano de agentes do ambiente externo, mas devem ser projetados pensando nas relações que podem ser construídas entre o interior e exterior, com a intenção de que seus ocupantes sejam beneficiados com o que é oferecido de melhor por ambos, especialmente a luz do sol. Assim, a iluminação zenital é a soluções arquitetônicas ideal, inteligente e funcional. Mas você sabe exatamente o que é iluminação zenital?

“Iluminação zenital é a entrada de luz natural em um ambiente por meio de aberturas na cobertura.”

Este tipo de iluminação traz diversos ganhos para o projeto de arquitetura, desde economia de energia a benefícios à saúde dos usuários.

Além disso, é um ótimo recurso para ambientes que possuem grandes dimensões e razão entre largura e comprimento perto de um, em que a iluminação natural tradicional por aberturas nas paredes se torna insuficiente e transforma o contato com o espaço externo um bem precioso e disputado. Isto porque garante uma iluminação mais uniforme já que não exige que se ilumine excessivamente uma área para alcançar níveis suficiente de luz nas áreas adjacentes. Também é solução eficaz em ambientes com limitações, como a impossibilidade de aberturas laterais, como ocorre em museus, shoppings, fábricas ou edificações com empenas cegas ou sem recuo das edificações vizinhas.

Ambiente com razão entre largura e comprimento perto de um, dificultando a iluminação natural com qualidade através de fontes tradicionais de aberturas laterais.

Sustentabilidade: a iluminação zenital e seus benefícios para o meio ambiente

Sustentabilidade e eficiência energética são assuntos cada vez mais importantes e essenciais na vida de arquitetos, isto porque estudos apontam que 50% do aquecimento global é decorrente do uso de combustíveis fósseis para aquecimento, iluminação e condicionamento de ar das edificações.

Por isto, os profissionais da área têm reconhecido sua responsabilidade e buscado oportunidades de se tornarem protagonistas de melhorias para o meio ambiente, por meio de soluções criativas, funcionais e sustentáveis.

Neste sentido, estratégias que possibilitam o uso adequado da luz do sol são extremamente relevantes, porque geram economia significativa de energia elétrica, dispensando o uso de iluminação artificial em horários em que o recurso natural oferecido pelo sol está a disposição para servir os homens. Além deste fator para redução de consumo de energia, alguns sistemas de iluminação zenital podem ser vinculados a aberturas para ventilação natural dos ambientes, garantindo renovação do ar sem o uso de ar condicionado e ventilador.

A iluminação zenital agrega conforto ambiental (luminoso e térmico) aos projetos dos espaços de maneira estratégica, funcional e sustentável.

Saúde e bem-estar: a luz natural e seus benefícios para os usuários

O contato com a iluminação natural, além de conferir sensação de aconchego e bem-estar, proporciona aos usuários benefícios para a saúde como elevação dos níveis de humor, secreção hormonal, aumento da disposição e vitalidade para pele e olhos, desenvolvendo um melhor comportamento social.

Pesquisa realizada pela Academia Americana de Neurologia aponta que indivíduos que vivem em climas mais ensolarados têm 45% menos chance de desenvolver esclerose múltipla, em comparação com aqueles que vivem em climas menos ensolarados.”

Reumatologista Cristiano Zerbini afirma que tomar sol é fundamental para obtenção de vitamina D, melhora na absorção do cálcio e fortalecimento dos ossos”

Hora do projeto: o que levar em consideração!

Por estar localizada na cobertura das edificações, as aberturas e materiais que compõe o sistema para iluminação zenital recebem uma grande incidência de radiação solar, principalmente em dias mais quentes, o que pode ocasionar consideráveis ganhos térmicos para o interior das edificações e elevar os gastos de energia elétrica por uso de condicionamento de ar.

Por isso, é fundamental que o responsável pelo projeto sempre considere os conceitos de orientação solar, faça uma boa análise das condicionantes climáticas da cidade de inserção do edifício e adeque o sistema de iluminação zenital a partir da avaliação do espaço interno observando os tipos de revestimento e pintura.
Além disso é essencial escolher os materiais adequados para o sistema e dimensionar a abertura adequadamente, equilibrando a proporção de raios solares que serão recebidos com o resultado que se pretende chegar na concepção do espaço.

Uma dica é basear-se na média de 15% da área do piso para aberturas voltadas apenas para iluminação e 8% para aquelas que integram a ventilação ao sistema de iluminação zenital.

É importante que o cliente seja sempre alertado sobre as questões de manutenção, já que o sistema de iluminação zenital pode oferecer dificuldades no momento da limpeza, por estar em altura

7 exemplos de iluminação zenital para valorizar o seu projeto!

1. SHEDS

Esse sistema de iluminação zenital, muito presente na arquitetura de João Filgueiras Lima (Lelé), demanda que a cobertura tenha o formato de dentes de serra, para possibilitar a aplicação dos sheds com inclinação e verticalidade envidraçadas.

Nessa solução é imprescindível que se analise, além do clima local, a direção dos ventos e o deslocamento do sol ao longo do dia, para o correto posicionamento dos sheds, que devem ser alocados com o objetivo de evitar a radiação solar direta, fornecendo uma iluminação natural mais difusa.

Como exemplo de destaque, o projeto do Hospital Sarah Kubitschek em Salvador, projetado pelo arquiteto Lelé, tem em sua concepção o sistema de sheds para a iluminação zenital.

2. CLARABÓIAS

As claraboias são opções de sistema para iluminação zenital que permitem a integração com aberturas para ventilação.

Em geral, são produzidas por meio de um sistema de estruturas transparentes, os domos, que permitem a entrada de luz e ar impedindo a entrada de água da chuva. Este sistema é produzido em acrílico e policarbonato, sendo disponibilizado no mercado, em lojas especializadas, em formatos padrão.

Um ótimo exemplo de claraboia é o Panteão em Roma, prova de que a solução é eficaz desde os primórdios da arquitetura. Na atualidade temos o artista James Turrel tirando partido das claraboias como expressão artística do espaço.

3. CLARABÓIA TUBULAR

A claraboia tubular é um sistema que integra um tubo à claraboia tradicional, permitindo a conexão da superfície do telhado com o teto do ambiente. É a solução ideal para quando há um espaçamento entre o forro e o telhado. Esta opção de claraboia produz uma iluminação direta, já que o tubo faz com que a luz natural penetre no ambiente desta maneira.

4. CÚPULA

Se a intenção do projeto é proporcionar um grande alcance de iluminação, as cúpulas são a solução ideal, utilizadas na arquitetura há séculos para proporcionar a entrada de luz natural em ambientes de grandes dimensões. Seu uso comumente se aplica em edifícios comerciais e institucionais: igrejas, shoppings, museus, mas podem ser utilizadas em outras opções de uso. Contudo, é necessária profunda atenção com a decisão de aplicação desta opção nos projetos, pois este sistema absorve grandes cargas térmicas e podem causar aquecimento no interior dos edifícios e elevar o consumo de ar condicionado. Por isso, o ideal é considerar o clima da região onde o projeto será implantado e avaliar as dimensões da abertura.

A Cúpula do Palácio do Reichstag, o parlamento alemão em Berlim, projetada por Norman Foster é um exemplo em que essa solução foi implementada levando em conta o conforto térmico do edifício.

5. ÁTRIO

O átrio tem formato piramidal, o que permite melhor distribuição da luz zenital no ambiente, ainda mais quando posicionado no centro, quando garante a entrada de luz natural de maneira harmoniosa. É comumente utilizado em edifícios altos, podendo ser aplicado sobre vazios, onde viabiliza a propagação de luz para mais de um nível. Boa opção para edifícios comerciais e residências.

6. LANTERNIM

Um dos tipos de iluminação zenital mais indicados é o lanternim, pois pode ser vinculado a abertura para ventilação, sendo neste caso, a solução que promove maior circulação do ar. É caracterizado por apresentar duas faces opostas.

7. TELHAS TRANSLÚCIDAS

Sendo uma das opções mais tradicionais, as telhas translúcidas são fornecidas no mercado pré-fabricadas em vidro, policarbonato e fibras de acrílico. Apesar da praticidade de instalação, essa solução apresenta maior absorção de calor, por isso é importante dimensionar adequadamente a área de sua aplicação de acordo com a necessidade.

Uma curiosidade é que existem telhas translúcidas produzidas com reaproveitamento de garrafa pet, uma alternativa artesanal e sustentável, mas que deve ser bem ponderada antes da aplicação no projeto, a fim de verificar a qualidade, funcionalidade e durabilidade desta opção.

Fontes:
– http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/06.012/1661
– EDWARDS, Brian. O guia básico para a sustentabilidade, 2005
– MOORE, 1985
– https://g1.globo.com/bemestar/noticia/tomar-sol-pode-reduzir-em-ate-55-o-risco-de-esclerose-multipla-diz-estudo.ghtml
– Imagens texto: Natália Morassi
– Imagem capa: Hans Braxmeier por Pixabay