Influência da luz sobre ecossistemas

Texto: Nathalia Novaes e Natália Morassi / Fotografia: Pixabay

A principal fonte de luz é o Sol, que representa uma manifestação de energia vital para para os seres vivos, com poucas exceções (espécies que vivem em cavernas ou em profundezas do oceano). Plantas dependem de captação de energia luminosa para realizar fotossíntese, borboletas dependem da luz solar para aquecer seus músculos antes de levantar voo, pássaros usam a luz solar como guia na migração. Os animais e vegetais se relacionam de maneira muito sensível com a luz, hora se orientando para ela (girassóis), hora se afastando (morcegos), mas sendo dependentes dela para reagir de maneira adequada com as necessidades e hábitos de suas espécies. De fato, a luz influencia diretamente no comportamento e distribuição dos seres vivos por sobre o planeta.

Já nós, seres humanos, que desafiamos à escuridão, podemos deixar passar despercebido a influência que podemos exercer sobre o ecossistema, a fauna e a flora de onde moramos e trabalhamos. Isto porque, no dia a dia, nem sempre observamos o ambiente a nossa volta, sobretudo o ambiente externo, quando nos recolhemos durante a noite. Porém, para seres vivos noturnos, que dependem da escuridão para sobreviver, a presença da luz à noite é completamente antinatural.

Fonte 01: Imagem de satélite da Europa durante a noite.

Jardins, prédios comerciais, rua e avenidas completamente iluminados, trazem a sensação de cidade ativa e bela paisagem noturna, mas escondem um grave problema por trás. Embora pareça inofensiva, a quantidade excessiva de luz que emitimos a cada noite é uma forma de poluição, que além de ofuscar o céu noturno na cidade, interfere diretamente nos hábitos de pássaros, morcegos e outros animais que viajam, comem e vivem no período noturno, causando um impacto bastante negativo sobre as outras espécies de seres vivos.

A variação dos períodos de luz (dia e noite) aliada a variação de temperatura influenciam  os animais em aspectos essenciais para a sobrevivência de suas espécies, como época da reprodução, mudança de pelagem e plumagem de mamíferos e aves, comportamento de migração ou hibernação.

Animais como morcegos, por exemplo, tem 17% de suas espécies listadas como ameaçadas de extinção por consequência dos impactos na luz no seu habitat noturno.²

A poluição luminosa é um problema global crescente, a cada dia temos cidades mais iluminadas, e isto influencia não só na vida de animais e vegetais, sobretudo os de hábitos noturnos, como em nossas vidas e também na qualidade do nosso sono (para compreender, leia nosso artigo “Luz como tratamento para depressão). A questão é realmente grave, afirma a FFWCC (Comissão de Conservação de Peixes e Vida Selvagem da Flórida) que “a poluição luminosa é uma ameaça séria para muitos tipos de vida selvagem. A cada ano, luzes artificiais causam perturbações no comportamento, lesões e morte de milhares de aves migratórias, tartarugas marinhas e outros répteis, anfíbios e mamíferos e invertebrados. ”³

A poluição luminosa também pode prejudicar nosso sistema alimentar, visto que pode ser uma ameaça para insetos noturnos (besouros, mariposas e moscas), que são essenciais para a polinização de culturas e plantas silvestres.

Embora pareça atual, essa questão já vem sendo analisada há algum tempo, pesquisas datadas de 2002 afirmam que é possível reduzir 83% da mortalidade de pássaros pela simples ação da apagar luzes de edifícios durante a noite. Portanto, para minimizar o impacto da iluminação noturna, o primeiro passo é ter uma atitude. Compreendendo que não existe substituto para um habitat naturalmente escuro, a solução mais simples e eficaz é apagar luzes desnecessárias e utilizar luminárias com um bom controle ótico, ou seja, luminárias fabricadas de forma que a luz só ilumina o que é necessário, sem deixar escapar para outras áreas.

Fonte 04: Poluição luminosa – áreas de impacto

Em edifícios comerciais é fundamental estabelecer horários de desligamento automático das fontes de luz. Em residências, ações como apagar as luzes de ambientes não ocupados (garagens, jardins, espaços internos) e compartilhar a ideia com amigos já auxiliam positivamente. Outra opção pode ser alterar o tipo de iluminação utilizado. Existem opções de iluminação âmbar que oferecem menos impacto aos ecossistemas: a simples troca de lâmpadas já pode impactar positivamente. Na Flórida, por exemplo, empresas desenvolveram equipamentos que atendem ao quesito de segurança ao meio ambiente e que são competitivos em relação a variedade de opções disponibilizadas por fornecedores de iluminação tradicional. Aqui no Brasil, especialistas em iluminação, em geral, são capazes de orientar quanto às melhores opções de iluminação disponíveis.

  1. Imagem 01: pixabay.com/pt/photos/europa-cidades-luzes-espa%C3%A7o-noite-550181/(Acessado em 15/01/2020);
  2. Fonte : org/doi/full/10.1098/rstb.2014.0124 (Acessado em 03/12/2020);
  3. Fonte: ecogardens.com/blog/how-to-minimize-the-impact-of-nocturnal-lighting-on-animals (Acessado em 13/02/2020).
  4. Fonte: Natália Morassi
Referências: