Home office, como a luz pode te ajudar!

Home office, como a luz pode te ajudar!

TEXTO: NATHALIA NOVAES E NATÁLIA MORASSI / IMAGENS: PIXABAY E ERCO

A nova dinâmica de trabalho em home office abordada no mundo todo em virtude da pandemia, despertou a relevância do tema da produtividade em relação ao ambiente de trabalho. Se antes, desempenhando as tarefas em escritórios, passava despercebido, hoje, com a necessidade de trabalhar em casa, tornou-se perceptível o quanto o espaço em que trabalhamos e as suas condições interferem diretamente em nossa produtividade. Nesse aspecto, a luz é um dos principais fatores que exerce influência visual, emocional e biológica sobre nós, pois é ela quem revela o espaço, suas formas e texturas.

O corpo humano é controlado por um relógio biológico que estabiliza-se em função da luz. A luz estimula a liberação ou inibição da produção de hormônios e também orienta o corpo na ativação e regeneração de células. Além disto, através de assimilações sensoriais, nos faz perceber as mudanças que ocorrem no ambiente e provoca respostas emocionais em nosso corpo. O processo de controle do relógio biológico através da regulagem de hormônios associados com as alterações de iluminação (claro e escuro) chama-se ritmo circadiano de 24 horas e é um dos mais importantes para a compreensão de como utilizar a iluminação voltada para a saúde e bem estar das pessoas.

Alguns dos principais recursos corporais influenciados pela luz são: temperatura corporal, estado de alerta e os hormônios cortisol (hormônio do stress) e melatonina (hormônio do sono).

O cortisol é responsável, entre outras coisas, pela geração de energia para o corpo através do aumento da glicose e melhora do sistema imunológico. Seus níveis são maiores pela manhã, quando está claro, para preparar o corpo para as atividades do dia. Permanecem suficientes durante o dia para as tarefas e caem significativamente (a níveis mínimos) no final da noite. Já a melatonina é produzida a noite, estimulada pela escuridão, e provoca sonolência para garantir um sono reparador. Seus níveis caem pela manhã, quando chega a claridade, reduzindo a sonolência e preparando o corpo para um estado de produção. Este ciclo é fundamental para o bom equilíbrio da saúde e bem estar.

“Sob a luz natural, principalmente a da manhã, o relógio interno do corpo é ajustado com o ciclo de rotação da terra, com luz-escuridão a cada 24 horas. Sem este ciclo normal de luz-escuridão de 24 horas de duração, o relógio interno giraria livremente no corpo humano. Isso resultaria em desvios diários cada vez maiores na temperatura corporal, no nível de cortisol e de melatonina.” (KOVALECHEN, 2012)¹

A partir da compreensão das interferências que a luz exerce sobre a dinâmica do nosso corpo, é possível entender o porquê da importância de buscar uma configuração luminosa mais adequada para os ambientes de acordo com suas funções, sobretudo nosso ambiente de trabalho e estudos que exige foco e produtividade. O planejamento adequado da iluminação pode proporcionar um ambiente mais confortável e eficiente para o home office ou home study.

Em escolas, a exposição à luz natural nos intervalos de aulas auxilia no desempenho do aprendizado dos alunos, e a na sala de aula a luz artificial pode ser uma ferramenta aliada a metodologia de ensino, através do seu uso adequado. Na Dinamarca, por exemplo, a escola Herstedlund utiliza a luz como parte estruturante das aulas, onde os professores usam os modos de iluminação pré-programados para planejar o momento em que suas aulas e atividades acontecem, baseando-se nas mudanças na luz. Estados de iluminação que promovem mais concentração em atividades que a exigem, melhor desempenho ou relaxamento nos momentos oportunos reduzindo níveis de sobrecarga e estresse. Isto proporciona um melhor aproveitamento das atividades e consequentemente um aprendizado mais intuitivo e eficaz.

Em ambiente corporativos, muitas empresas buscam o aumento do desempenho e produtividade de suas equipes a fim de aumentar seu grau de competitividade dentro de seus mercados. Segundo arquiteto Guinter Parschalk, especialista em iluminação, em entrevista à revista Lume, os trabalhadores são cada vez mais responsáveis por seus resultados e por isso, as empresas estão percebendo a importância de prover espaços mais confortáveis para seus funcionários. Isto porque as condições de conforto garantem bem estar e maior motivação às pessoas e isto, por sua vez, leva a um aumento no desempenho e produtividade.

Baseando-se neste conhecimento, em pesquisas relacionadas à compreensão da iluminação ideal e a necessidade de obter um maior bem estar e motivação para desempenhar o trabalho ou estudo em casa, é possível preparar uma iluminação mais adequada para o ambiente onde essas atividades são realizadas. Uma boa iluminação precisa seguir algumas regras para ser dita saudável, são elas basicamente: nível de iluminação, uniformidade, ofuscamento e temperatura de cor.

Para compreender a relação destas regras, um pesquisador (MANAV, 2007) avaliou em um escritório experimental, as impressões das pessoas quanto a temperatura de cor e iluminância. Diversas combinações foram testadas, utilizando-se níveis de iluminação de 500 a 2000 lux e temperaturas de cor de 2700K a 4000K.

A conclusão da pesquisa foi que esses índices afetaram a aceitabilidade das pessoas ao ambiente, havendo maior preferência pela temperatura de 4000K (cor fria), que garante um maior estado de foco e concentração, enquanto que a de 2700K (cor quente) foi apontada como inadequada por trazer sensação de relaxamento. Num ambiente de trabalho tanto ação quanto relaxamento são necessários, dependendo da situação. Por isso, uma iluminação artificial que siga o ritmo do corpo humano, baseada na ação que exerce a luz natural sobre ele, pode ser a escolha ideal. Isso é possível através de uma iluminação dinâmica, que é alterada nos controles de cor e nível de iluminação no decorrer do dia, conforme a necessidade do ambiente e as tarefas ali desempenhadas.

Uma iluminação saudável compreende uma iluminação pensada para garantir conforto visual e psicológico, adequada às necessidades e funções de cada espaço e cada momento e que por isso, seja eficaz na redução dos níveis de estresse e contribua para elevação dos níveis de humor e consequentemente para um maior desempenho produtivo.

Como aplicar no seu home office?

Aprofundada a compreensão da relação da iluminação e o desempenho produtivo e cognitivo, seguem dicas sobre a sua aplicação no home office:

  • Opte por maiores iluminâncias (níveis mais altos de iluminação no plano de trabalho) na ordem de 500 lux;

  • Evite altos contrastes de luz no mesmo ambiente, por exemplo, um quarto escuro com luz intensa apenas na mesa de trabalho. O alto contraste entre claro e escuro faz com que a pupila fique abrindo e fechando com frequência, o que causa fadiga visual;

  • Não abra mão da iluminação natural. Se possível, procure posicionar seu espaço de trabalho em lugares bem iluminados pela luz do dia, mas tome cuidado com o ofuscamento, evite posicionar a tela do computador de frente para a janela;

  • Procure adequar a temperatura de cor de acordo com a atividade desenvolvida (iluminação dinâmica), variando de temperaturas mais quentes (2700k) ao final do dia (momento de relaxamento) para temperaturas mais frias (entre 4000k e 6000k) em atividades que exigem maior concentração. Luminárias de mesa combinadas com luminárias de teto podem ser boas aliadas nessa composição dinâmica;

  • Caso não seja possível adaptar uma iluminação dinâmica, lâmpadas com temperatura de cor de 4000k podem ser uma boa escolha de equilíbrio;

  • Evite ofuscamentos. Olhar diretamente para a luz pode gerar desconforto e estresse visual e psicológico. Caso a luminária esteja no campo de visão, opte por luminárias com controle ótico (luminárias com aletas que evitam contato visual direto com a lâmpada ou luminárias com lâmpadas recuadas que diminuem esse contato). Os fornecedores confiáveis conseguem medir o nível de ofuscamento das luminárias, medido em UGR (Índice de Ofuscamento Unificado).

 Luminária com aleta Luminária recuada
  • Verifique a especificações das lâmpadas antes de realizar a compra, elas estão inseridas nos rótulos juntamente com o selo do INMETRO que garante a qualidade;

  • Em caso de dúvidas, consulte um especialista em iluminação, um arquiteto de iluminação.

 

 

Referências:
  1. KOVALECHEN, M. T. B. A iluminação enquanto fator de alteração do desempenho no trabalho em ambientes corporativos. Revista Online Especialize IPOG, 2012.
  2. GARLET, E.; SANTOS, L. A. D.; PERUFO, L. D.; GODOY, L. P.; MARZALL, L. F. A iluminação natural como fator de desempenho em ambientes industriais. Revista de Administração da UFSM, 2015.