Luz como tratamento para a depressão

Luz como tratamento para a depressão

Texto: Nathalia Novaes e Natália Morassi / Imagens: Natália Morassi

A depressão é um problema de saúde cada vez mais frequente nos dias de hoje, estudos apontam que uma em cada dez pessoas apresenta, durante sua vida, quadro de depressão que requer tratamento.¹ Os casos de depressão geralmente são identificados através de sintomas psicológicos como desinteresse, pensamentos negativos, falta de energia e disposição, irritabilidade, etc (para um diagnóstico efetivo é necessário consultar um médico).

Um dos fatores que podem influenciar no quadro depressivo é o processamento de serotonina e melatonina no organismo. A serotonina é um neurotransmissor responsável por diversas funções, dentre elas a sensação de bem-estar mental. Sua ausência ou mau processamento no cérebro, muitas vezes, leva a quadros de mau humor e depressão. Os níveis de serotonina apresentam oscilação ao longo do dia, estando mais elevados no período da manhã e diminuindo gradativamente durante o dia até a noite, período em que é utilizada pelo organismo para a produção de melatonina.

A melatonina é um hormônio que possui como uma de suas funções a de regular o relógio biológico, produzindo sono no período da noite e garantindo disposição pela manhã. O processo de produção da melatonina é diretamente influenciado pelas condições de iluminação do ambiente externo ao organismo, começando nas retinas onde ocorre a detecção das condições de luz e mensagens são enviadas ao cérebro inibindo (quando há presença de luz) ou estimulando (quando há ausência de luz) a sua produção. Na glândula pineal ocorre a secreção do hormônio, influenciando diretamente nos ciclos biológicos, agindo como reguladora das relações entre claro e escuro, atividade e repouso e também como niveladora do sistema imunológico. Por isso a importância de se manter os níveis ideais de melatonina no organismo.

“Pessoas com um ritmo circadiano saudável apresentam um aumento rápido nos níveis de melatonina após o anoitecer e níveis altos (máximos) durante a noite até o início da manhã, que são essenciais para adormecer e para dormir profundamente e com tranquilidade. Pelo início da manhã, apresentam uma redução acentuada nos níveis de melatonina que permite o despertar em resposta ao aumento dos níveis de luz.” ²

A qualidade do sono e o equilíbrio no ciclo circadiano do ser humano influenciam diretamente sobre seu humor e bem estar diário. Pessoas que enfrentam distúrbios no sono têm grande tendência a quadros de depressão dada pela indisposição e falta de estímulo para desempenhar suas atividades. E o contrário também ocorre: pessoas com depressão, em geral, apresentam transtornos crônicos no sono.

Nesse sentido, compreender a importância da luz e da influência que ela exerce sobre o organismo humano e seu funcionamento é essencial para a construção de ambientes saudáveis que estimulem o bem estar das pessoas. E assimilar a luz como fonte de tratamento para os distúrbios e problemas de saúdes apresentados pode ser uma porta para uma vida mais saudável e feliz.

É recomendável que pela manhã ocorra exposição a luz natural por um período de no mínimo 15 minutos, com incidência direta sobre os olhos para que haja a captação da luz pelas retinas e estas se comuniquem com o organismo informando-o que aquele é o momento de despertar e se dispor. No período noturno, é importante que haja um maior controle da luz artificial, a fim de adequar o ambiente ao estado de preparação para o sono e estimular o início de produção de melatonina, minimizando os níveis de luz, em especial a luz de comprimento de onda azul muito comum nos LEDs. A ausência de luz deve ser mantida durante toda a noite, pois a melatonina dura cerca de 30 minutos apenas no organismo, e é necessário manter sua produção enquanto está dormindo para sustentar o sono reparador. Seguir essa rotina de contato correto com a luz, incita o organismo a compreender o ciclo saudável e produzir os hormônios de maneira adequada.

O tratamento com luz artificial também é eficaz para a sincronização do ciclo circadiano desregulado e a cura da depressão associadas a distúrbios de sono. Através da exposição a 500 lux diretamente na retina durante um período de 40 minutos por dia, pode se obter um reequilíbrio do ciclo. A luz, no tratamento, pode ser um caminho contrário ao de suplementação hormonal, um caminho mais natural, rumo à saúde, à disposição e ao bem estar.

A fim de obter uma boa relação com a luz e uma vida mais saudável e feliz, algumas orientações podem ser seguidas:

● Ter a natureza como base para compreender as horas ideais de aumentar ou reduzir as luzes (o sol nasce trazendo luz até que se põe gerando escuridão);

● Tampar luzes de equipamento eletrônicos que ficam acesas quando eles estão desligados (pode usar fita isolante ou similar);

● Evitar o uso de celular antes de dormir, ou caso seja inevitável, utilizar a função de filtro de luz azul e de redução de brilho de tela (disponível na maioria dos aparelhos);

● Utilizar cortinas e blackouts em janelas para evitar que luzes externas entrem no quarto;

● Evitar a presença de aparelhos de televisão nos quartos, pois estimula que estes sejam ligados antes de dormir ou até durante o sono;

● Não trabalhar na madrugada;

● Ler um livro antes de dormir;

● Preparar o quarto minutos antes de se deitar, desligando as luzes e deixando apenas uma fonte de luz mais suave (abajur, luminária) para sinalizar ao organismo que o momento é de relaxar.

Notas: 1. Fonte: “https://www.chronobiology.com/” 2. Fonte:” https://luxreview.com/article/2017/11/hospital-treats-psychiatric-patients-with-orange-light” 3. Fotografia: “https://pixabay.com/photos/person-woman-sun-light-bright-601587/”